Por Carolina Pimentel*

Embalagens individuais como solução!

Você sabia que tanto o tamanho da porção como o tamanho da embalagem influenciam na quantidade final de comida que será consumida?

Evidências recentes sugerem que, quando as pessoas se deparam com grandes porções de alimentos, elas tendem a se servir com uma quantidade maior e, por fim, consumir mais. Nomeado de “efeito do tamanho da porção”, o comportamento acontece independente do sabor da comida, método de se servir (self-service ou pré-servido), local de alimentação ou tipo de alimento.

Nesse contexto, é preocupante o aumento nas últimas décadas do tamanho das porções consumidas pelos indivíduos (principalmente de bebidas adicionadas com açúcar), tendência verificada tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. Como era de se esperar, esses dados coincidem com uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade na população de diversos países.

De fato, um estudo brasileiro que avaliou mais de 24 mil pessoas, identificou uma associação positiva entre o tamanho da porção de bebidas alcoólicas e refrigerantes a um excesso de peso. Dessa forma, é importante buscarmos formas de reduzir as porções, não é mesmo?!

Uma solução podem ser as chamadas “portion packs”, que são as embalagens individuais. Além de cumprirem com as funções básicas de proteção ao alimento, garantindo as características sensoriais do produto (sabor, aroma, textura) e a sua durabilidade, elas podem contribuir para um consumo mais consciente e, assim, auxiliar na saúde dos indivíduos.

E a ciência comprova: estudos em indivíduos adultos mostraram que embalagens menores podem reduzir o consumo de alimentos contribuindo para a redução da ingestão de energia. Em uma das pesquisas, a redução de 25% no tamanho das porções ao longo de 2 dias resultou em uma diminuição de 10% no consumo e na ingestão de energia. Mais recentemente, esse comportamento também foi verificado em crianças de 3 a 5 anos.

Os especialistas acreditam que isso se deve, sobretudo, porque os consumidores esperam consumir quantidades maiores de alimentos em embalagens grandes do que em pequenas, ou seja, a mentalidade pré-refeição já é diferente.

Não podemos deixar de mencionar também outra característica importante das embalagens individuais: a sua praticidade, uma vez que facilitam o transporte e a própria ingestão dos alimentos, inclusive por crianças e idosos.

E segundo o relatório Brasil Pack Trends de 2020, devido ao aumento da quantidade de residências com apenas uma pessoa e a vida urbana cada vez mais caótica, aumentou também a demanda por produtos em embalagens cada vez menores, individuais.

Mas, obviamente, para uma nutrição adequada, não basta apenas consumir porções menores:  é importante também priorizar alimentos com mais fibras, menos gorduras, açúcares e sal, e que sejam fortificados com vitaminas e minerais importantes, como as vitaminas C e D.

De forma geral, a famosa vitamina C está contida principalmente nas frutas cítricas e vermelha e nos vegetais verde-escuros (como o brócolis e espinafre). Além disso, a vitamina é utilizada pela indústria de alimentos para melhorar a conservação dos insumos e também acrescentada nos alimentos para enriquecê-los e fortificá-los.

Isso porque o nutriente auxilia em funções importantes para o organismo como: na absorção do ferro não-heme dos alimentos (o ferro proveniente de alimentos vegetais); no fortalecimento do sistema imunológico, na cicatrização de feridas; e na síntese de colágeno (proteína que dá sustentação à pele).

Já a vitamina D é essencial em funções que se relacionam com o metabolismo ósseo. Em contrapartida, a deficiência da vitamina pode levar ao retardo do crescimento e ao raquitismo em crianças. Em adultos, pode causar doenças como osteomalácia (caracterizada por ossos frágeis e quebradiços) e hiperparatiroidismo secundário

(relacionado à perda da função renal), e aumento da reabsorção óssea, favorecendo a perda de massa óssea e o desenvolvimento de osteopenia e osteoporose.

Nos alimentos, o nutriente pode ser encontrado no salmão, sardinha e atum em conserva, gema de ovo e cogumelos, porém, em quantidades pequenas. Por isso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia recomenda a exposição ao sol para que a produção cutânea de vitamina D seja catalisada pelos raios UVB. Além disso, atualmente existem diversos produtos alimentícios fortificados com a vitamina.

Em conclusão, para a sua saúde física e mental, é essencial escolher alimentos ricos em nutrientes e que venham em pequenas porções. Dessa forma, você terá uma alimentação mais saudável e em quantidade equilibrada.

 

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Dra Carolina Pimentel. Nutricionista. Mestrado e Doutorado pela USP. Especialista em Medicina do Estilo de Vida pelo International Board of Lifestyle Medicine. Autora dos livros “Além da Nutrição – O impacto da nutrição materna nas futuras gerações” e Alimentos Funcionais e Compostos bioativos” pela Ed Manole.