Comida cura?

Nestes tempos de pandemia, a preocupação com a nossa saúde mental e física está mais alta do que nunca. “Imunidade” é uma das palavras mais buscadas por aí e – obviamente – todos temos muitas perguntas sobre como nos proteger e queremos saber como pode fazer isso a partir de hábitos simples, como a alimentação.

Porém, com tantas dúvidas, é muito fácil acabar caindo em fake news ou recebendo sugestões de prevenções tratamentos que não são cientificamente comprovados. Por isso, nós resolvemos fazer algumas perguntas para quem entende do assunto.

Conversamos com a Alessandra Luglio, nutricionista especialista em alimentação vegetariana, e ela nos explicou um pouco sobre a relação entre saúde e alimentação. Confira abaixo um resumo dessa conversa.

Sabemos que algumas condições de saúde estão ligadas à deficiência de certos nutrientes, mas a alimentação pode também ser usada para tratar ou nos curar de doenças?

Não há um alimento específico que seja capaz de curar ou tratar alguma doença, mas o tipo de dieta alimentar seguida é um dos maiores contribuintes para o tratamento e prevenção de algumas doenças crônicas não transmissíveis, assim como para o desenvolvimento delas. Mas é importante ressaltar que nem sempre será possível tratar uma doença apenas com uma alimentação adequada e direcionada ao caso, muitas vezes, será necessário o uso de medicamentos ou alternativas para controle e/ou tratamento.

O que podemos destacar é que, ao contrário do que muitos pensam, a genética não é a única responsável pelo surgimento de doenças crônicas, ela tem sua contribuição, mas de apenas 20%. Os outros 80% entram na conta do nosso estilo de vida, ou seja, de como vivemos, quais hábitos temos e nossas escolhas alimentares.

 

Vemos algumas pessoas dizerem que a comida pode ser uma cura ou remédio para algumas condições. Qual o perigo de afirmações como essas?

Soluções milagrosas e receitas caseiras consideradas mágicas surgem o tempo todo, principalmente, nas redes sociais. Tais informações, assim como toda e qualquer fake news, são extremamente perigosas e devem ser combatidas e denunciadas, pois podem causar sérios risco para a saúde e bem estar de quem as recebe. Dependendo do que for “vendido” como cura ou tratamento, se colocado em prática, pode prejudicar o tratamento e até mesmo agravar as doenças. Por isso, é importante ser crítico e acompanhar pessoas e profissionais que sejam éticos e que utilizem bases científicas confiáveis, levando, assim informações corretas e que serão benéficas à população. 

 

Falando em bases científicas, no que devemos prestar atenção quando surgem novas pesquisas que possam relacionar a alimentação com algumas condições de saúde?

Sempre desconfie de soluções mágicas e milagrosas, e como já citei, saiba que nenhum alimento de forma isolada tem o poder de cura. Quando se deparar com qualquer notícia, crie o hábito de não ler apenas o título. Leia o texto na integra e avalie se as informações não são genéricas ou muito vagas, se há citação de fontes, e sempre questione aquilo que chega até você. A ausência de citação de fontes de estudos científicos, pode ser um sinal de que a informação seja falsa, alarmista ou foi retirada de algum contexto específico e distorcida. Desconfie, sempre, de textos alarmistas onde existe a contestação da ciência e críticas à profissionais acadêmicos e pesquisadores, pois muitos estudos demandam anos de investigação e dedicação até serem publicados.

Caso se depare com esse tipo de informação, consulte outras fontes, faça uma pesquisa sobre a o tema e pessoa que está divulgando e veja se ela tem autoridade para falar desse assunto, consulte seu nutricionista ou médico de confiança e faça pesquisas em sites científicos. Informações verdadeiras na ciência, área da saúde e nutrição são oriundas de artigos científicos publicados em revistas e jornais conceituados que podem ser encontrados em sites especializados como, por exemplo, o Pubmed. Tudo o que ouvimos deve ser questionado, criticado e repensado, sempre.

 

Que dicas você passaria para alguém que, neste momento, está preocupado com a saúde e pensa em transformar alguns hábitos alimentares por causa disso?

Mudança de hábito alimentar requer constância e paciência para que sejam sustentáveis ao longo da vida. Nenhuma mudança de hábito ocorre da noite para o dia e nenhuma dieta restritiva é eficiente a longo prazo. E muito mais fácil do que mudar um hábito antigo, é incluir na rotina um novo hábito. Por isso, quando assunto é uma alimentação mais saudável, o primeiro passo não é excluir aqueles alimentos pouco nutritivos (que você consome há anos) ou reduzir drasticamente as calorias diárias, mas incluir no dia a dia os alimentos com alta densidade nutritiva que fornecerão ao seu organismo nutrientes de forma natural e que nutrirá suas células e promoverá saúde.

Tais alimentos são as frutas, verduras e legumes que, infelizmente, não estão presente no dia a dia da maioria das refeições brasileiras. O segundo passo é reduzir de forma gradativa os alimentos pouco nutritivos e fazer substituições adequadas, como por exemplo, trocar um arroz branco pelo integral algumas vezes na semana. Aumentar o consumo de leguminosas, como feijão, lentilha, ervilha, grão de bico e soja. Além disso, a melhor forma de incluir novos hábitos alimentares, é tendo contato com os alimentos, ou seja, cozinhando e preparando suas próprias refeições sempre que possível. Hoje, existem ótimos sites, livros de receitas e perfis de redes sociais que ensinam receitas práticas, possíveis de serem executadas e muito nutritivas.

Alessandra Luglio – CRN 3 6893 – Nutricionista especialista em alimentação vegetariana e natural.