A alimentação saudável é obtida através do consumo de diversos grupos de alimentos como carnes, cereais, verduras e frutas. A combinação destes grupos qualitativa e quantitativamente deve fornecer as necessidades de energia, reparação e crescimento (proteínas), além dos minerais, micronutrientes e vitaminas para a manutenção do bom funcionamento do organismo. No entanto, essa “química da vida” nem sempre é respeitada. As dificuldades do dia a dia na ingestão de uma dieta saudável e o crescente uso de alimentos processados ocasionam, quer pela falta ou excesso, desvios nutricionais que comprometem a saúde e a qualidade de vida em adultos e crianças.

A fim de contribuir para uma alimentação saudável, as políticas de saúde pública no País objetivam coibir os excessos de açúcar, gorduras saturadas e sal e promovem o enriquecimento/fortificação dos alimentos sólidos e bebidas industrializados.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), alimento enriquecido (que já contém o nutriente, porém, em baixa concentração) ou fortificado (não contém o nutriente específico) é aquele no qual foi adicionado um elemento com a finalidade de reforçar seu valor nutricional.

O enriquecimento e a fortificação dos alimentos são de grande importância na saúde pública em diversas faixas etárias, desde a infância até a terceira idade ou ainda em gestantes, lactantes e na recuperação nutricional de doenças, pois nem sempre a alimentação diária supre as necessidades de proteínas e gorduras essenciais ( ácidos graxos da séries ômegas 6 e 3) e a de minerais (cálcio e fósforo), micronutrientes (ferro, zinco, iodo, selênio) e vitaminas ( C, D e ácido fólico).

No Brasil, estudos demonstram alta prevalência de anemia ferropriva na primeira infância, além das deficiências de cálcio e vitamina D e ácidos graxos ômega-3 que podem comprometer o crescimento e desenvolvimento cognitivo em crianças.

Nas gestantes, a deficiência de ácido fólico pode apresentar anemia, parto prematuro e más formações congênitas do tubo neural do feto. Em adultos, a deficiência de vitamina D, fibras e de alguns ácidos graxos essenciais na alimentação como os da série Ômega-3 que incluem o EPA ( eicosopentanóico) e DHA (docosa hexaenóico) levam a situações de hipertensão , hipercoagulabilidade sanguínea e maior estado inflamatório. A baixa impregnação do DHA no Sistema Nervoso Central para o feto durante a gestação e em crianças ocasiona déficit cognitivo (aprendizagem) e nos adultos dificuldades na memória e propensão às doenças degenerativas como Alzheimer.

O enriquecimento/ fortificação é utilizado quando o acesso e a disponibilidade de alimentos é limitado e, portanto, não há oferta de nutrientes em níveis adequados na dieta associado ao nível de carência nutricional da população. Apresenta-se como intervenção de saúde pública de custo-efetividade, e a médio e longo prazo pode elevar o status de micronutrientes na população a custo razoável.

A OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2006, reconheceu três tipos de fortificação. A “fortificação universal”, que consiste na adição de micronutrientes em alimentos de grande consumo pela maioria da população, regulada pelo governo; a fortificação voluntária ou “mercado aberto”, uma iniciativa da indústria de alimentos com o objetivo final de diversificar a produção; e a “fortificação direcionada”, que é a fortificação de alimentos consumidos por grupos específicos. Há também uma recente abordagem denominada “fortificação comunitária ou domiciliar”, que consiste na adição de suplementos vitamínicos ou minerais às refeições das crianças, utilizando produto em pó adicionado ao leite ou suco de frutas. No Brasil estuda-se sua implantação nos programas de merenda escolar.

O processo de fortificação deve ser economicamente viável e os produtores de alimentos devem apresentar monitoramento apropriado da qualidade do produto final. Os produtos considerados como principais veículos são os cereais, os lácteos, bebidas à base de frutas e, em menor proporção, sal (iodo) e óleos vegetais ( ômegas 3 e 6). Eles são selecionados por serem produzidos industrialmente e consumidos em quantidades expressivas pelos diferentes segmentos da sociedade.

A tendência das autoridades sanitárias, além da fortificação e/ou enriquecimento dos alimentos e bebidas, tem sido a política da redução de açúcar, sal e gorduras saturadas e também de elementos químicos artificiais como corantes e flavorizantes (sabor) nos alimentos processados. No Brasil há uma legislação específica da Anvisa e Ministério da Agricultura que regula estes aspectos. A indústria de alimentos e bebidas vem procurando se adequar à legislação e melhorar a qualidade dos produtos. No segmento de bebidas, por exemplo, há uma preocupação em baixar o teor de açúcar e elementos químicos adicionados ao produto para atender o mercado com bebidas mais naturais e de melhor valor nutricional.

As bebidas à base de sucos de frutas são excelente recurso em termos de produtos com valor nutricional, pois possibilitam de forma prática atender às recomendações de consumo de frutas e legumes (3 a 5 porções diárias) e oferecer as propriedades funcionais com elementos biotivos como os flavonoides, potentes antioxidantes, além de minerais e vitaminas.

A possibilidade de enriquecimento e/ou fortificação de sucos naturais com cálcio, vitaminas C e D, ácido fólico, fibras e ácidos graxos essenciais Ômega-3 (DHA) complementa as necessidades diárias nutricionais, constituindo-se em forte aliado no crescimento e desenvolvimento cerebral de crianças, na manutenção e prevenção da saúde em adultos nas diversas faixas etárias (incluindo a terceira idade) e nas necessidades específicas da gestação e recuperação nutricional de doenças.

Artigo escrito por Rubens Feferbaum, nutrólogo e professor Livre Docente em Pediatra da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo